Pela primeira vez nos últimos 23 anos, a liberdade de imprensa global está em situação categorizada como “difícil” pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Segundo seu ranking de 2025, houve queda na pontuação em 60% dos 180 países avaliados, inclusive nos Estados Unidos, cuja democracia está historicamente alicerçada na imprensa livre. Em 90 deles, o status é “difícil” ou “muito grave”.
A listagem se baseia em dados do ano anterior —no caso, 2024. Mas considera eventos ocorridos na passagem entre os anos que impactem a atividade.
Assim, os atos de Donald Trump durante as eleições e nos quatro primeiros meses do seu segundo mandato —ataques verbais a jornalistas, proibição de acesso de veículos à Casa Branca e corte de financiamentos para comunicação pública— contribuíram para que o país caísse duas posições em relação ao ranking anterior e ficasse na 57ª.
Na América Latina, a Argentina de Javier Milei, seguidor do ideário trumpista, perdeu 21 posições ante a edição de 2024 e figura no 87º lugar. Em países onde há muito observa-se fragilidade da livre imprensa, o quadro agravou-se, como em Venezuela (160º), Nicarágua (172º) e México (124º)
Já o Brasil foi uma das exceções do ranking, no âmbito regional e global, ao escalar 19 posições em relação a 2024 e alcançar o 63º lugar. Quando se compara com o último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), que também era hostil ao trabalho jornalístico, o país avançou 29 colocações.
Mesmo assim, o país ainda está na categoria “problemático”, o que exige ações do poder público, principalmente sobre a segurança dos profissionais de imprensa —mais vulneráveis em cidades pequenas, regiões isoladas como a amazônia ou dominadas por facções criminosas.
Guerras, conflitos armados e declínio institucional também contribuíram para a piora mundial. São os casos de nações africanas, do Leste Europeu e do Oriente Médio, como Sudão, Rússia, Ucrânia, Israel e Palestina.
O relatório da RFS destaca, ainda, a deterioração do indicador econômico. A competição com plataformas online vem fazendo cair as verbas publicitárias dos jornais, e a concentração de propriedade dos meios de comunicação mina a pluralidade.
Trata-se de um cenário desafiador. A ascensão global de populismos e da polarização política impacta a liberdade de imprensa, mas deve-se lembrar que ela é uma das principais ferramentas para preservar as instituições democráticas que esses fenômenos tendem a desestabilizar.
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Fonte ==> Folha SP