25 de dezembro de 2025

Primeiros sinais de autismo em bebês: como identificar precocemente e buscar ajuda especializada

A pediatra Michele Freitas explica o que observar nos primeiros meses de vida e por que o diagnóstico precoce faz diferença no desenvolvimento infantil

Nos primeiros meses de vida, cada bebê apresenta um ritmo próprio de desenvolvimento. Ainda assim, existem sinais comportamentais e neurológicos que merecem atenção especial quando se trata do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A identificação precoce pode ser decisiva para o prognóstico da criança, permitindo intervenções mais eficazes ainda na primeira infância.

Segundo a médica pediatra Michele Freitas, com mais de 21 anos de experiência em Medicina de Família e Pediatria, os primeiros sinais de autismo podem surgir antes mesmo do primeiro ano de vida. “O que observamos não é um único sinal isolado, mas um conjunto de comportamentos que indicam dificuldades na comunicação, na interação social e na resposta aos estímulos”, explica.

Entre os principais sinais de alerta estão a ausência ou redução do contato visual, pouco interesse por interações sociais, falta de resposta ao próprio nome, atraso no balbucio, movimentos repetitivos e dificuldade em demonstrar emoções ou compartilhar atenção com adultos. “Muitos pais relatam que sentem que algo está diferente, mas acabam ouvindo que é cedo demais para se preocupar. Esse atraso na escuta pode custar tempo precioso”, alerta a especialista.

Nesse contexto, Michele Freitas faz um alerta importante sobre condutas ainda comuns na prática clínica. “A pior coisa que um profissional pode fazer ao ser procurado por uma mãe aflita, que percebe que seu filho é diferente, é dizer: ‘vamos esperar para intervir, pois cada criança tem seu tempo’”, afirma. Para ela, essa postura pode retardar intervenções fundamentais em uma fase crítica do neurodesenvolvimento.

A pediatra destaca que um dos instrumentos mais valiosos para orientar pais e profissionais é a Caderneta da Criança. “Ela traz todos os principais marcadores de neurodesenvolvimento esperados para cada idade. Consultar a caderneta ajuda a identificar atrasos de forma objetiva e embasada”, orienta.

Michele Freitas ressalta que o diagnóstico de autismo é clínico e deve ser realizado por profissionais capacitados, a partir da observação do comportamento da criança e do acompanhamento do desenvolvimento. “Não existe um exame único que confirme o autismo. O diagnóstico vem da escuta atenta, da observação longitudinal e do olhar multidisciplinar”, afirma.

A médica atua há mais de 10 anos com uma abordagem integrativa no tratamento de crianças com autismo e TDAH, unindo pediatria, neurodesenvolvimento e cuidado ampliado à família. Mãe de três crianças autistas, Michele também traz para sua prática uma vivência pessoal que fortalece o vínculo com pais e cuidadores. “A família precisa ser acolhida. O diagnóstico não é uma sentença, mas o início de um caminho de compreensão e cuidado”, reforça.

Além da atuação clínica, Michele Freitas é palestrante e escritora, e coautora do livro Caminhos do Autismo, publicado pela Editora Fortunato. Na obra, ela contribui com um capítulo voltado à medicina e pediatria integrativa aplicadas ao autismo e ao TDAH, ao lado de terapeutas, autistas adultos e pais neuro atípicos. “A ideia do livro foi reunir diferentes vozes e experiências reais, para mostrar que o autismo não é uma vivência única, mas múltipla”, explica.

Para a especialista, o recado principal aos pais é claro: observar, confiar na própria percepção e buscar orientação profissional ao menor sinal de dúvida. “Quanto mais cedo começamos, maiores são as possibilidades de desenvolvimento, autonomia e qualidade de vida para a criança”, conclui.

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